sexta-feira, 27 de março de 2009

Igreja faz ofensiva a políticos que apoiam aborto

Folha de S. Paulo, quinta-feira, 26 de março de 2009


A Arquidiocese do Rio prepara uma Comissão de Acompanhamento Político Permanente para pressionar representantes do Legislativo que apresentem projetos que facilitem temas como aborto e eutanásia. Com boletins bimestrais, a igreja visa desestimular católicos a votar em políticos comprometidos com temas contrários a seus dogmas.

‘O Estado tem feito uma política de aborto’

O Globo, domingo, 22 de março de 2009


Catarina Alencastro

Assessor da Comissão Vida e Família da CNBB, padre Luiz Antônio Bento diz que o governo tem feito uma política pró-aborto. Critica o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, e o presidente Lula, por ter distribuído [preservativos] no carnaval.

O Globo — A Igreja condena todo aborto?

Padre Luiz Antônio Bento — Sim. A Igreja Católica é contrária a qualquer forma de agressão à vida. A missão da medicina é salvar vidas, não matar. É diferente de fazer um aborto terapêutico, como alguns chamam o aborto em casos de anencefalia. É um aborto eugênico, é um aborto para eliminar crianças que têm malformação. Hoje são os anencéfalos, amanhã poderão ser os que têm Síndrome de Down.

— O que achou da condenação da Igreja ao aborto feito pela menina estuprada?

— A Igreja vai ajudar essa família. Mas a imprensa fica falando só do bispo. Estão usando a menina para criar uma mentalidade abortista. O padre Edson, de Alagoinha, e a comunidade estarão próximos desta mãe. O Temporão vai estar muito longe. Vivo nas periferias. Sei o que passam nos postos de saúde.

Igreja pede boicote de fiéis ao filme ‘Anjos e demônios’, antes da estreia

O Globo, segunda-feira, 23 de março de 2009


Embora ainda nem tenha estreado, o filme Anjos e demônios já recebeu censura da Igreja Católica, que aconselhou os fiéis a boicotar esse thriller dirigido por Ron Howard com base em romance homônimo de Dan Brown, mesmo autor de O Código Da Vinci.

Quando foi levado às telas de cinema em 2006, por Howard, o best-seller O Código Da Vinci irritou o Vaticano por sugerir a tese de que Maria Madalena e Jesus Cristo haviam tido uma filha. Em Anjos e demônios — que será exibido em maio, durante o Festival de Cannes —, o ator Tom Hanks volta ao papel do acadêmico Robert Langdon, que, no primeiro filme, investigava aquela polêmica teoria.

Além de incentivar um amplo boicote, o Vaticano negou autorização à equipe de filmagem para que rodasse qualquer cena no interior de igrejas romanas.

O porta-voz da Diocese de Roma, Marco Fibbi, afirmou que permissões para filmagens normalmente são concedidas ou recusadas após oficiais da Igreja lerem o roteiro dos requerentes.

La Fraternidad San Pío X muestra su disposición a debatir sobre el Concilio

Zenit, viernes, 13 de marzo de 2009


Menzingen — El superior de la Fraternidad Sacerdotal de San Pío X ha agradecido a Benedicto XVI la carta que publicó este jueves sobre el levantamiento de la excomunión a los cuatro obispos seguidores de monseñor Marcel Lefebvre, porque permite reconducir el debate a los argumentos doctrinales.

Comunicado del Superior General de la Fraternidad Sacerdotal San Pío X

El Papa Benedicto XVI ha dirigido una carta a los obispos de la Iglesia católica, con fecha del 10 de marzo de 2009, en la que hace saber las intenciones que le han guiado hasta el paso importante que constituye el Decreto del 21 de enero de 2009.

Tras la reciente “avalancha de protestas”, agradecemos vivamente al Santo Padre de haber devuelto el debate a la altura donde debe estar, la de la fe. Compartimos plenamente su preocupación prioritaria de la predicación “en nuestra época en la que en regiones vastas de la tierra la fe corre el peligro de apagarse como una llama que no encuentra de dónde alimentarse”.

La Iglesia atraviesa, en efecto, una gran crisis que sólo podrá ser resuelta por un retorno integral a la pureza de la fe. Con san Atanasio, profesamos que “Aquel que quiera ser salvado, debe ante todo tener la fe católica: el que no la guarda íntegra e inviolada irá, sin duda alguna, a su perdición eterna” (Símbolo Quicumque).

Lejos de querer detener la Tradición a 1962, deseamos considerar el Concilio Vaticano II y la enseñanza post-conciliar a la luz de esta Tradición que san Vincent de Lérins definió como “lo que todos han creído siempre, y en todas partes” (Commonitorium), sin ruptura y en un desarrollo perfectamente homogéneo. Así es como podremos contribuir eficazmente a la evangelización querida por el Salvador. (Cf. Mateo 28,19-20)

La Fraternidad Sacerdotal de San Pío X asegura a Benedicto XVI su voluntad de abordar los debates doctrinales considerados “necesarios” por el Decreto del 21 de enero, con deseo de servir a la Verdad revelada, que es la primera caridad que hay que manifestar a todos los hombres, sean cristianos o no. Le asegura también su oración a fin de que su fe no desfallezca y que pueda confirmar a todos sus hermanos. (Cf. Lucas 22,32).

Ponemos estos debates doctrinales bajo la protección de Nuestra Señora de la Plena Confianza, con la seguridad que nos obtendrá la gracia de transmitir fielmente lo que hemos recibido, “tradidi quod et accepi” (I Cor. 15,3).

Menzingen, 12 de marzo de 2009 / + Bernard Fellay

Continente da Esperança

O Globo, sábado, 21 de março de 2009


Dom Eugenio Sales

Nas palavras do Secretário Geral do Sínodo, Dom Nikola Eterovic, a Igreja na África “é hoje uma realidade em pleno desenvolvimento (...). Por exemplo, os bispos aumentaram 18% desde 1994 e os sacerdotes diocesanos, 58%. Este crescimento excepcional é muito mais importante se levarmos em conta que no começo do século XX os católicos não chegavam a 2 milhões, e hoje são 154 milhões, 17% da população africana (...). A prática religiosa é alta, especialmente a participação na missa dominical e de preceito. Em alguns países está em torno de 80%, o que explica também o elevado número de vocações ao sacerdócio e à vida consagrada.

Obispos cameruneses acusan a Occidente de ‘desinformar’ sobre la visita papal

Zenit, jueves, 26 de marzo de 2009


Yaundé — Los obispos de Camerún han publicado una declaración en la que acusan a “ciertos medios occidentales” de haber “desinformado” sobre la visita de Benedicto XVI, negando que exista “malestar” en la opinión pública del país por las declaraciones del Papa sobre el uso de los preservativos en la lucha contra el Sida.

En el texto, firmado por el presidente de la Conferencia Episcopal, monseñor Victor Tonye Bakot, los prelados muestran su “asombro” por lo sucedido, y sobre todo al constatar que “la prensa quiera hacer creer que existe un malestar en la opinión camerunesa sobre la visita del Santo Padre, a consecuencia de sus declaraciones”.

En primer lugar, ofrecen el texto completo de las palabras del Papa que han provocado la polémica, y lamentan que “lo que los periodistas retienen de esta declaración tan completa del Papa sea sólo la oposición a los preservativos, ocultando toda la acción de la Iglesia en la lucha contra el Sida y en el cuidado de los enfermos”.

Los prelados subrayan que el Papa ha dado un doble mensaje al respecto: por un lado, “la Iglesia católica en todas partes está comprometida diariamente en la lucha contra el Sida”, a través de “estructuras adaptadas para la acogida, el control y el tratamiento de las personas infectadas del VIH. Esta asistencia es a la vez moral, psicológica, nutricional, médica y espiritual”.

Por otro lado, “la Iglesia, fuerza moral, tiene el imperioso deber de recordarles a los cristianos que toda práctica sexual fuera del matrimonio y desordenada es peligrosa y propicia a la difusión del Sida. Es por eso que predica la abstinencia para los solteros y la fidelidad en el seno de la pareja. Es su deber. No puede sustraerse de él”.

Papa pede a africanos que não creiam em bruxas

Folha de S. Paulo, domingo, 22 de março de 2009


O papa Bento 16 pediu em Angola, segunda etapa de uma viagem pela África que termina amanhã, que os católicos locais não se deixem contaminar por práticas de feitiçaria e crença em espíritos, típicas das religiões locais e de cultos neopentecostais, e que busquem trazer ao catolicismo aqueles que nelas acreditam. “Muitos deles vivem com medo de espíritos, de poderes malignos”, disse Bento 16. A igreja vê o continente africano como região privilegiada para a conversão de novos fiéis ao catolicismo, muitos deles antes praticantes de religiões locais. Ao mesmo tempo, em Angola, igrejas protestantes neopentecostais, muitas delas oriundas do Brasil, têm crescido nos últimos anos.

Bento XVI: África deve dispersar ‘nuvem do mal’

O Globo, segunda-feira, 23 de março de 2009


Luanda — Sob um forte calor, o Papa Bento XVI liderou ontem mais de 1 milhão de fiéis numa missa celebrada ao ar livre na capital de Angola, Luanda, em que pediu para os africanos dispersarem as “nuvens do mal” que ainda pairam sobre o continente, palco de décadas de guerra civil. O Papa afirmou que a reconciliação africana só virá com uma “transformação emocional e uma nova forma de pensamento”.

O evento, realizado na Esplanada de Cimangola, foi o maior liderado pelo Pontífice em sua visita de sete dias à África, que termina hoje.

Depois da grande missa, em que várias pessoas desmaiaram ou passaram mal por causa do calor, o Papa fez um apelo especial pelo respeito ao direito e à dignidade das mulheres africanas, durante um encontro com movimentos católicos para a promoção feminina numa igreja de Luanda.

— Há tantas heroínas silenciosas que são as mulheres de Angola e da África, que carregam sobre suas costas o peso da família e da economia rural. A importância da mulher para a família é frequentemente menosprezada — disse o Papa.

Papa ataca ‘tribalismo’ ao fim de visita


Folha de S. Paulo, segunda-feira, 23 de março de 2009


Rafael Cariello

O papa Bento 16, numa missa para cerca de um milhão de angolanos na capital do país, Luanda, responsabilizou ontem o “tribalismo”, a guerra e as rivalidades entre diferentes etnias pela pobreza e pela injustiça social na África.

Segundo ele, essas “nuvens do mal” privaram “gerações futuras dos recursos necessários para criar uma sociedade mais sólida e justa”.

O ataque ao “tribalismo” reforça uma das ideias repetidas pelo pontífice nessa viagem de uma semana por dois países africanos, Camarões e Angola, que se encerra hoje: a da oposição entre o “universalismo” católico — visto como valor positivo — e o que ele chamou de “etnocentrismo” local.

Ainda no segundo dia de sua viagem, Bento 16 criticou “todo o etnocentrismo e particularismo excessivos”, afirmando que os sacerdotes africanos devem evitar que as missas “festivas e animadas” com elementos sincréticos locais se tornem obstáculo para o “diálogo e comunhão com Deus”.

A incorporação de elementos da cultura local em celebrações católicas foi uma das grandes mudanças promovidas na igreja pelo Concílio Vaticano 2º (1962-1965), reforma que buscou aproximar o catolicismo da modernidade, além de valorizar o poder e a cultura local das igrejas em cada país.

segunda-feira, 23 de março de 2009

64% dos abortos com amparo legal são consequência de estupro

Folha de S. Paulo, sábado, 14 de março de 2009


Brasília — A maioria das meninas de até 14 anos que fez aborto com amparo legal em 2008 foi vítima de estupro. Levantamento do Ministério da Saúde, mostra que 49 garotas com idade entre 10 e 14 anos se submeteram a interrupção de gravidez no ano passado.

Desse total, 64% viveram drama similar ao da menina de Pernambuco.

O número de interrupções de gravidez nessa faixa etária (de 10 a 14 anos) mais do que dobrou no ano passado, passando de 22 casos de aborto (em 2007) para 49.

“Em geral, [o abuso] acaba acontecendo dentro da própria casa da menina, com algum familiar”, afirma Lena Peres, coordenadora da área de saúde da mulher do Ministério da Saúde.

Declaração da Arquidiocese de Olinda e Recife

Blog Pe. Edson Rodrigues, terça-feira, 17 de março de 2009


A respeito do artigo intitulado Dalla parte della bambina brasiliana e publicado no L’Osservatore Romano no dia 15 de março, nós, abaixo assinados, declaramos:

1. O fato não aconteceu em Recife, como diz o artigo, mas sim na cidade de Alagoinha (Diocese de Pesqueira).

2. Todos nós — começando pelo pároco de Alagoinha (abaixo assinado) — tratamos a menina grávida e sua família com toda caridade e doçura. O Pároco, fazendo uso de sua solicitude pastoral, ao saber da notícia em sua residência, dirigiu-se de imediato à casa da família, onde se encontrou com a criança para lhe prestar apoio e acompanhamento, diante da grave e difícil situação em que a menina se encontrava. E esta atitude se deu durante todos os dias, desde Alagoinha até Recife, onde aconteceu o triste desfecho do aborto de dois inocentes. Portanto, fica evidente e inequívoco que ninguém pensou em primeiro lugar em “excomunhão”. Usamos todos os meios ao nosso alcance para evitar o aborto e assim salvar as TRÊS vidas. O Pároco acompanhou pessoalmente o Conselho Tutelar da cidade em todas as iniciativas que visassem o bem da criança e de seus dois filhos. No hospital, em visitas diárias, demonstrou atitudes de carinho e atenção que deram a entender tanto à criança quanto à sua mãe que não estavam sozinhas, mas que a Igreja, ali representada pelo Pároco local, lhes garantia a assistência necessária e a certeza de que tudo seria feito pelo bem da menina e para salvar seus dois filhos.

3. Depois que a menina foi transferida para um hospital da cidade do Recife, tentamos usar todos os meios legais para evitar o aborto. A Igreja em momento algum se fez omissa no hospital. O Pároco da menina realizou visitas diárias ao hospital, deslocando-se da cidade que dista 230 km de Recife, sem medir esforço algum para que tanto a criança quanto a mãe sentissem a presença de Jesus Bom Pastor que vai ao encontro das ovelhas que mais precisam de atenção. De tal sorte que o caso foi tratado com toda atenção devida da parte da Igreja e não “obrigativamente” como diz o artigo.

4. Não concordamos com a afirmação de que “a decisão é árdua… para a própria lei moral”. Nossa Santa Igreja continua a proclamar que a lei moral é claríssima: nunca é lícito eliminar a vida de um inocente para salvar outra vida. Os fatos objetivos são estes: há médicos que explicitamente declaram que praticam e continuarão a praticar o aborto, enquanto outros declaram com a mesma firmeza que jamais praticarão o aborto. Eis a declaração escrita e assinada por um médico católico brasileiro: “(…) Como médico obstetra durante 50 anos, formado pela Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, e ex-chefe da Clínica Obstétrica do Hospital do Andaraí, onde servi 35 anos até minha aposentadoria, para dedicar-me ao Diaconato, e tendo realizado 4.524 (quatro mil quinhentos e vinte e quatro) partos, muitos de menores de idade, nunca precisei recorrer ao aborto para “salvar vidas”, assim como todos os meus colegas íntegros e honestos em sua profissão e cumpridores de seu juramento hipocrático. (…)”.

5. É falsa a afirmação de que o fato foi divulgado nos jornais somente porque o Arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão. Basta ver que o caso veio a público em Alagoinha na quarta-feira, dia 25 de fevereiro, o Arcebispo se pronunciou na imprensa no dia 03 de março e o aborto se deu no dia 4 de março. Seria demasiado imaginar que a imprensa brasileira, diante de um fato de tamanha gravidade, tenha silenciado nesse intervalo de seis dias. Assim sendo, a notícia da menina (“Carmen”) grávida já estava divulgada nos jornais antes da consumação do aborto. Somente então, interrogado pelos jornalistas, no dia 3 de março (terça-feira), o Arcebispo mencionou o cânon 1398. Estamos convictos de que a divulgação desta penalidade medicinal (a excomunhão) fará bem a muitos católicos, levando-os a evitar este pecado gravíssimo. O silêncio da Igreja seria muito prejudicial, sobretudo ao constatar-se que no mundo inteiro estão acontecendo cinqüenta milhões de abortos cada ano e só no Brasil um milhão de vidas inocentes são ceifadas. O silêncio pode ser interpretado como conivência ou cumplicidade. Se algum médico tem “consciência perplexa” antes de praticar um aborto (o que nos parece extremamente improvável) ele – se é católico e deseja observar a lei de Deus — deve consultar um diretor espiritual.

6. O artigo é, em outras palavras, uma direta afronta à defesa pela vida das três crianças feita veementemente por Dom José Cardoso Sobrinho e demonstra quanto o autor não tem bases e informações necessárias para falar sobre o assunto, por total desconhecimento dos detalhes do fato. O texto pode ser interpretado como uma apologia ao aborto, contrariando o Magistério da Igreja. Os médicos abortistas não estiveram na encruzilhada moral sustentada pelo texto, ao contrário, eles praticaram o aborto com total consciência e em coerência com o que acreditam e o que ensinam. O hospital que realizou o aborto na menininha é um dos que sempre realizam este procedimento em nosso Estado, sob o manto da “legalidade”. Os médicos que atuaram como carrascos dos gêmeos declararam e continuam declarando na mídia nacional que fizeram o que já estavam acostumados a fazer “com muito orgulho”. Um deles, inclusive, declarou que: “Já fui, então, excomungado várias vezes”.

7. O autor arvorou-se do direito de falar sobre o que não conhecia, e o que é pior, sequer deu-se ao trabalho de conversar anteriormente com o seu irmão no episcopado e, por esta atitude imprudente, está causando verdadeiro tumulto junto aos fiéis católicos do Brasil que estão acreditando ter Dom José Cardoso Sobrinho sido precipitado em seus pronunciamentos. Ao invés de consultar o seu irmão no episcopado, preferiu acreditar na nossa imprensa declaradamente anticlerical.

Recife-PE, 16 de março de 2009 / Pe. Edson Rodrigues, Pároco de Alagoinha-PE — Diocese de Pesqueira / Mons. Edvaldo Bezerra da Silva, Vigário Geral — Arquidiocese de Olinda e Recife / Pe. Moisés Ferreira de Lima, Reitor do Seminário Arquidiocesano / Dr. Márcio Miranda, Advogado da Arquidiocese de Olinda e Recife

Algo no funciona en el Vaticano

La Cigüeña de la Torre, Blog, lunes, 16 de marzo de 2009


Francisco José Fernandez de la Cigoña

Son ya demasiadas las contradicciones, los desmentidos. Con evidente regocijo de todos los enemigos de la Iglesia. Jamás se había visto nada semejante. La Iglesia de las certezas quieren algunos que pase a ser la Iglesia de las dudas. Donde todo vale. Lo blanco y lo negro.

La moral a la carta, la renuncia de los principios, el todo vale según convenga se está imponiendo de hecho. O lo intentan algunos. El resultado es que se cuartean los muros de la fortaleza. Y algunos están encantados. La verdad ya no está en la Iglesia. Unos dicen una cosa y otros la contraria. Los obispos se enfrentan a los obispos. Si todo reino dividido perecerá los hay que ya están descorchando el champagne.

La noticia de la excomunión a quienes participaron en un aborto no lo era aunque algunos quisieron explotar las tristísimas y repugnantes circunstancias que rodearon al hecho para atacar a la Iglesia. La vida humana era hasta antes de ayer sagrada, desde su concepción hasta que se extingue. Hoy parece que en unos casos sí y en otros menos.

Ante el espantoso crimen multiplicado hasta cifras millonarias del aborto, la Iglesia decidió la excomunión de los autores cualificados del mismo. Podría no haberlo hecho y sería igual un crimen y un pecado. Pero lo hizo. Supongo que sopesando los pros y los contras. Son horribles los atentados terroristas en los que mueren cientos de inocentes, los casos de pederastia con niños de cortísima edad agravados en ocasiones con el asesinato de los mismos, las violaciones múltiples, el bombardeo de poblaciones indefensas... Sus autores, responsables de gravísimo pecado, no quedan excomulgados latae sententiae. Sí quienes realizan un aborto. O quedaban hasta ayer. Hoy ya no se sabe.

Porque parece que hay abortos buenos. Como el del Brasil. Quienes participaron directa y efectivamente en el aborto de la niña brasileña están excomulgados. Con declaración del arzobispo de Olinda y Recife o sin ella. El prelado brasileño pudo no declarar lo que ya era. Y visto lo que se armó quizá hubiera sido lo más prudente. Pero no hizo otra cosa que expresar lo que la Iglesia afirmaba hasta ayer. Y que quiero suponer que sigue afirmando.

Yo critiqué que un obispo francés metiera la hoz en la mies brasileña y con unas palabras que cuasi justificaban aquel aborto. Hoy creo que los franceses son ya cuatro por lo menos. Y se han visto reforzados por un italiano que es nada menos que el presidente de la Pontificia Academia para la Vida. Y el encomium mortis de quien en teoría debería ser defensor de la vida mereció los honores de L’Osservatore Romano. Todo es un sinsentido.

Ahora vendrán los intentos, dificilísimos si no imposibles, de volver a introducir en el recipiente la pasta de dientes que se echó fuera. La interpretación general, no hay más que leer la prensa mundial, es que la Iglesia legitima un aborto. Que hay abortos buenos. Por fin la Iglesia ha cedido. Y ha reconocido su error.

Estoy convencido de que una vez más no pasará nada. Se agachará la cabeza esperando a que escampe. Yo personalmente creo que Salvatore Fisichella, Rino para los amigos, debería dimitir hoy mismo. O en otro caso ser cesado. Y el director de L’Osservatore también.

Dalla parte della bambina brasiliana di Rino Fisichella, Arcivescovo presidente della Pontificia Accademia per la Vita

L’Osservatore Romano, 15 marzo 2009


Il dibattito su alcune questioni si fa spesso serrato e le differenti prospettive non sempre permettono di considerare quanto la posta in gioco sia veramente grande. È questo il momento in cui si deve guardare all’essenziale e, per un attimo, lasciare in disparte ciò che non tocca direttamente il problema. Il caso nella sua drammaticità è semplice. C’è una bambina di soli nove anni — la chiameremo Carmen — che dobbiamo guardare fisso negli occhi senza distrarre lo sguardo neppure un attimo, per farle capire quanto le si vuole bene. Carmen, a Recife, in Brasile, viene violentata ripetutamente dal giovane patrigno, rimane incinta di due gemellini e non avrà più una vita facile. La ferita è profonda perché la violenza del tutto gratuita l’ha distrutta dentro e difficilmente le permetterà in futuro di guardare agli altri con amore.

Carmen rappresenta una storia di quotidiana violenza e ha guadagnato le pagine dei giornali solo perché l’arcivescovo di Olinda e Recife si è affrettato a dichiarare la scomunica per i medici che l’hanno aiutata a interrompere la gravidanza. Una storia di violenza che, purtroppo, sarebbe passata inosservata, tanto si è abituati a subire ogni giorno fatti di una gravità ineguagliabile, se non fosse stato per lo scalpore e le reazioni suscitate dall’intervento del vescovo. La violenza su una donna, già grave di per sé, assume una valenza ancora più deprecabile quando a subirla è una bambina, con l’aggravante della povertà e del degrado sociale in cui vive. Non c’è linguaggio corrispondente per condannare tali episodi, e i sentimenti che ne derivano sono spesso una miscela di rabbia e di rancore che si assopiscono solo quando viene fatta realmente giustizia e la pena inflitta al delinquente di turno ha certezza di essere scontata.

Carmen doveva essere in primo luogo difesa, abbracciata, accarezzata con dolcezza per farle sentire che eravamo tutti con lei; tutti, senza distinzione alcuna. Prima di pensare alla scomunica era necessario e urgente salvaguardare la sua vita innocente e riportarla a un livello di umanità di cui noi uomini di Chiesa dovremmo essere esperti annunciatori e maestri. Così non è stato e, purtroppo, ne risente la credibilità del nostro insegnamento che appare agli occhi di tanti come insensibile, incomprensibile e privo di misericordia. È vero, Carmen portava dentro di sé altre vite innocenti come la sua, anche se frutto della violenza, e sono state soppresse; ciò, tuttavia, non basta per dare un giudizio che pesa come una mannaia.

Nel caso di Carmen si sono scontrate la vita e la morte. A causa della giovanissima età e delle condizioni di salute precarie la sua vita era in serio pericolo per la gravidanza in atto. Come agire in questi casi? Decisione ardua per il medico e per la stessa legge morale. Scelte come questa, anche se con una casistica differente, si ripetono quotidianamente nelle sale di rianimazione e la coscienza del medico si ritrova sola con se stessa nell’atto di dovere decidere cosa sia meglio fare. Nessuno, comunque, arriva a una decisione di questo genere con disinvoltura; è ingiusto e offensivo il solo pensarlo.

Il rispetto dovuto alla professionalità del medico è una regola che deve coinvolgere tutti e non può consentire di giungere a un giudizio negativo senza prima aver considerato il conflitto che si è creato nel suo intimo. Il medico porta con sé la sua storia e la sua esperienza; una scelta come quella di dover salvare una vita, sapendo che ne mette a serio rischio una seconda, non viene mai vissuta con facilità. Certo, alcuni si abituano alle situazioni così da non provare più neppure l’emozione; in questi casi, però, la scelta di essere medico viene degradata a solo mestiere vissuto senza entusiasmo e subito passivamente. Fare di tutta un’erba un fascio, tuttavia, oltre che scorretto sarebbe ingiusto.

Carmen ha riproposto un caso morale tra i più delicati; trattarlo sbrigativamente non renderebbe giustizia né alla sua fragile persona né a quanti sono coinvolti a diverso titolo nella vicenda. Come ogni caso singolo e concreto, comunque, merita di essere analizzato nella sua peculiarità, senza generalizzazioni. La morale cattolica ha principi da cui non può prescindere, anche se lo volesse. La difesa della vita umana fin dal suo concepimento appartiene a uno di questi e si giustifica per la sacralità dell’esistenza. Ogni essere umano, infatti, fin dal primo istante porta impressa in sé l’immagine del Creatore, e per questo siamo convinti che debbano essergli riconosciuti la dignità e i diritti di ogni persona, primo fra tutti quello della sua intangibilità e inviolabilità.

L’aborto provocato è sempre stato condannato dalla legge morale come un atto intrinsecamente cattivo e questo insegnamento permane immutato ai nostri giorni fin dai primordi della Chiesa. Il concilio Vaticano ii nella Gaudium et spes — documento di grande apertura e accortezza in riferimento al mondo contemporaneo — usa in maniera inaspettata parole inequivocabili e durissime contro l’aborto diretto. La stessa collaborazione formale costituisce una colpa grave che, quando è realizzata, porta automaticamente al di fuori della comunità cristiana. Tecnicamente, il Codice di diritto canonico usa l’espressione latae sententiae per indicare che la scomunica si attua appunto nel momento stesso in cui il fatto avviene.

Non c’era bisogno, riteniamo, di tanta urgenza e pubblicità nel dichiarare un fatto che si attua in maniera automatica. Ciò di cui si sente maggiormente il bisogno in questo momento è il segno di una testimonianza di vicinanza con chi soffre, un atto di misericordia che, pur mantenendo fermo il principio, è capace di guardare oltre la sfera giuridica per raggiungere ciò che il diritto stesso prevede come scopo della sua esistenza: il bene e la salvezza di quanti credono nell’amore del Padre e di quanti accolgono il vangelo di Cristo come i bambini, che Gesù chiamava accanto a sé e stringeva tra le sue braccia dicendo che il regno dei cieli appartiene a chi è come loro.

Carmen, stiamo dalla tua parte. Condividiamo con te la sofferenza che hai provato, vorremmo fare di tutto per restituirti la dignità di cui sei stata privata e l’amore di cui avrai ancora più bisogno. Sono altri che meritano la scomunica e il nostro perdono, non quanti ti hanno permesso di vivere e ti aiuteranno a recuperare la speranza e la fiducia. Nonostante la presenza del male e la cattiveria di molti.

Vaticano critica a decisão e fala em misericórdia

O Estado de S. Paulo, domingo, 15 de março de 2009

Antes de pensar na excomunhão, era necessário e urgente salvaguardar a vida inocente da menina de 9 anos estuprada pelo padrasto. “Infelizmente não foi assim e disso se ressente a credibilidade de nosso ensinamento, que parece aos olhos de tantos como insensível, incompreensível e privado de misericórdia.” Quem diz é o arcebispo Rino Fisichella, presidente da Pontifícia Academia para a Vida, órgão da Igreja. Sua crítica à decisão do arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho foi publicada no L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano. Fisichella reconhece o dilema dos médicos entre salvar a vida menina ou a dos fetos. “Ninguém chega a uma decisão desse tipo com desenvoltura: é injusto e ofensivo só o fato de pensar assim.” Ele condena a forma pública da excomunhão e diz que era mais importante dar o “testemunho de proximidade com quem sofre, um ato de misericórdia que, mantendo firme o princípio (a condenação ao aborto), olhasse além da esfera jurídica.”

Médico não merecia a excomunhão, diz Vaticano

Folha de S. Paulo, segunda-feira, 16 de março de 2009


Em artigo publicado anteontem no Osservatore Romano, jornal oficial do Vaticano, o monsenhor Rino Fisichella afirmou que o médico brasileiro responsável pelo aborto realizado na garota de nove anos, em Pernambuco, não merecia a excomunhão, pois salvou sua vida.

A nota do arcebispo, que preside a Pontifícia Academia para a Vida, causou surpresa, já que as regras da Igreja Católica ordenam a excomunhão automática em casos de aborto.

Como se dirigisse à garota, Fisichella escreveu: “Há outros que merecem a excomunhão e o perdão, não aqueles que salvaram sua vida e a ajudarão a recuperar a esperança e a fé”.

O monsenhor avaliou que a vida da criança estaria em perigo se a gestação fosse levada adiante. E foi enfático em sua defesa, pedindo respeito ao médico e à mãe da garota, que são católicos e foram condenados publicamente. “Antes de pensar em excomunhão, era necessário e urgente salvar aquela vida inocente e trazer de volta sua dignidade, algo que, nós, da igreja, deveríamos ser experts e mestres em proclamar”, disse.

Fisichella criticou o anúncio público de excomunhão feito pelo arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho no início do mês. Para ele, a garota “deveria ter sido, acima de tudo, compreendida e tratada com delicadeza para fazê-la sentir que todos nós, sem distinção, estamos ao seu lado”.

Não reclamem ao bispo

Veja, quarta-feira, 18 de março de 2009

 

Juliana Linhares, Leo Caldas/Titular

Ao longo de 2 000 anos de história, duas forças, ora conflitantes, ora complementares, moldaram a Igreja Católica: a doutrina do amor e o amor pela doutrina. Dom José Cardoso Sobrinho, arcebispo de Olinda e Recife, é sem dúvida um homem da segunda força.

— Por que estupradores não são também automaticamente excomungados?

— A nossa santa Igreja condena todos os pecados graves. O estupro é um pecado gravíssimo para a Igreja, assim como o homicídio. Agora, a Igreja diz que o aborto, isto é, o ato de tirar a vida de um inocente indefeso, é muito mais grave que o estupro, que o homicídio de um adulto. Qualquer pessoa inteligente é capaz de compreender isso. Eu não estou dizendo que o estupro e a pedofilia são coisas boas. Mas o aborto é muito mais grave e, por isso, a Igreja estipulou essa penalidade automática de excomunhão.

— Em que outros casos se aplica a excomunhão automática?

— No Código de Direito Canônico anterior, promulgado por Bento XV, havia cerca de quarenta motivos para a excomunhão automática. Em 1983, sob a autoridade de João Paulo II, foi publicado um novo Código. O atual os reduziu a apenas nove. São eles: o aborto; a apostasia, que é quando a pessoa abandona a religião; a heresia, que acontece quando uma pessoa nega um dogma da Igreja; a violência física contra a pessoa do papa; a consagração de um bispo sem a licença do papa; o cisma; a absolvição por um sacerdote do cúmplice de um pecado da carne; a violação direta do segredo da confissão; e a profanação das hóstias consagradas.

— Como o senhor se sente em face das críticas e dos ataques que vem recebendo?

— Eu quero dizer que estou com a minha consciência tranquila. Cumpri o meu dever. Não podia prever essa reação em nível nacional e internacional, mas remorso eu sentiria se tivesse ficado em silêncio. Humanamente falando, é muito mais cômodo cruzar os braços e fechar os olhos. Eu estou tranquilíssimo. Espero que os fiéis católicos se conscientizem da gravidade de um aborto. Nós sabemos que no mundo inteiro acontecem 50 milhões de abortos por ano. No Brasil, há 1 milhão a cada ano. Quero lembrar o que aconteceu na II Guerra Mundial. Hitler, aquele ditador, queria eliminar o povo judaico e dizem que ele chegou a matar 6 milhões de judeus. Não podemos esquecer esse delito. Agora, eu pergunto: por que vamos ficar em silêncio quando estão acontecendo 50 milhões de abortos no mundo? Eu chamo isso de o holocausto silencioso. E nós, cristãos, não podemos ficar quietos.

— O senhor já fez sermões contra a pedofilia, contra o estupro?

— Nós temos na arquidiocese uma rádio católica. Eu tenho um programa diário e estou explicando ao povo o catecismo da Igreja. Leio um parágrafo e faço um comentário. Estou cumprindo o meu dever. E falo sobre todos os pecados. Ninguém pode dizer que dom José não condena a pedofilia e que dom José não condena o estupro. Mas não posso falar diariamente sobre a pedofilia. Vão dizer que estou louco. Eu não omito nenhum tema da lei de Deus.

Moderação da CNBB trouxe alívio

O Estado de S. Paulo, domingo, 15 de março de 2009


Lourival Sant?Anna

As novas declarações da cúpula da Igreja sobre o aborto na menina de 9 anos em Pernambuco causaram certo alívio nas paróquias. O anúncio da excomunhão da mãe da menina e dos médicos que realizaram o aborto havia causado perplexidade e indignação entre muitos fiéis e levou muitos padres a ter de dar explicações sobre a posição da Igreja.

Além de excluir dos sacramentos da Igreja a mãe da garota, os médicos e outros profissionais de saúde envolvidos na interrupção da gravidez, como enfermeiras, o arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, ainda sugeriu que o estupro era menos grave que o aborto. Diante da forte reação negativa, a direção da CNBB deu entrevista coletiva, na quinta-feira, esclarecendo que a mãe não incorreu na excomunhão porque agiu para salvar sua filha, ao ser informada de que ela morreria se seguisse adiante com a gravidez. Quanto aos médicos, disse o secretário-geral da CNBB, d. Dimas Lara Barbosa, não há “elementos para dizer qual está excomungado”, pois “depende da consciência de cada um”.

A reparação foi bem recebida no interior da Igreja. “O bispo poderia ter sido mais comedido, mais prudente, menos radical e mais compreensivo”, critica o frei Benjamin Remiro, de 72 anos, da Igreja Nossa Senhora da Saúde. “A Igreja é mãe. Pode colocar as coisas de forma mais atraente para os fiéis. O modo como isso foi colocado não foi o mais fraterno e humano.” Com suas declarações, diz ele, a CNBB “agora torna as coisas mais claras e fornece mais critério para examinar o caso”.

“O que a CNBB tentou fazer foi mostrar que condenar é a última coisa com que a Igreja está preocupada, mas sim ajudar, salvar, olhar com positividade”, explica o padre Vando Valentini, de 60 anos, da igreja da Pontifícia Universidade Católica (PUC) e coordenador da Pastoral Universitária. Para ele, ninguém parecia estar preocupado com a menina, que “sofreu um mal quando foi estuprada e agora carrega o fardo do aborto para a vida inteira”.

Padre Vando lembrou a declaração do papa Bento XVI a propósito da eutanásia, em fevereiro, de Eluana Englaro, que vivia em coma havia mais de 17 anos na Itália: “A verdadeira resposta consiste em dar um testemunho do amor que ajuda a enfrentar a dor e a agonia de modo humano.”

“A postura da CNBB ajuda muito”, considera o cônego Severino Martins, da Igreja Assunção de Nossa Senhora, no Jardim Paulista. “Ela coloca as coisas no seu devido lugar. Não houve excomunhão, porque as pessoas não agiram de modo consciente, mas pressionadas.” Além disso, acrescentou o cônego, a CNBB manifestou “solidariedade com a família, que está sofrendo muito”.

“As declarações esclarecem um pouco mais a situação”, afirmou o padre Luiz Fernando Pereira, da Igreja São Judas Tadeu. “A Igreja está com um cuidado um pouco maior, porque se polemizou a ponto de criar uma imagem de que a Igreja está contra a vida, e isso é muito negativo. Para a Igreja, a vida está acima de tudo.”

No seu sermão de domingo, o padre Luiz Fernando condenou o aborto: “A gente tende a olhar para o sofrimento da menina de 9 anos, mas ela trazia seres humanos com a mesma dignidade que nós.” Ele lembrou que médicos consultados pela Igreja avaliaram que os bebês poderiam ser retirados no sexto mês de gestação. “Tinha risco, mas as crianças sairiam vivas”, disse o padre, de 34 anos, estudante de Psicologia. “A Igreja quer que todos vivam.”

Ao final da missa de domingo, o padre Michelino Roberto pediu que os fiéis da Igreja Nossa Senhora do Brasil se sentassem. Na mesma linha que seria adotada quatro dias depois pela CNBB, ele explicou que não era verdade que o bispo havia excomungado a mãe e os médicos. “Ele simplesmente informou a existência da pena, prevista no Código Canônico”, justificou o padre, de 43 anos.

Para o fiel Marcos Antonio Delfim, profissional de marketing de 46 anos, quem sairia perdendo caso a posição de d. José fosse mantida seria a Igreja. “Excomungar é muito radical, é levar a ferro e fogo”, diz Delfim, que frequenta a Igreja Assunção. “Não vejo nenhum peso na excomunhão. A pessoa muda para outra igreja.”

CNBB desautoriza iniciativa de bispo sobre excomunhão

O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009


Luciana Nunes Leal

Brasília — O secretário-geral da CNBB, d. Dimas Lara Barbosa, disse que a mãe da menina não está excomungada, pois agiu sob pressão e com o objetivo de salvar a vida da filha. “Não temos elementos para dizer qual médico está excomungado e qual não está. Depende do grau de consciência de cada um”, disse ainda d. Dimas. Segundo o secretário-geral, estão excomungados somente os profissionais “conscientes e contumazes” na prática do aborto.

Durante entrevista coletiva, foi distribuído um documento sobre excomunhão, assinado pelo assessor canônico da CNBB, padre Enrique Pérez Pujol, que destaca o fato de que a punição não deve ser aplicada em meio a uma polêmica. A afirmação de d. José Cardoso Sobrinho sobre a excomunhão da mãe e dos profissionais envolvidos no aborto foi feita um dia depois da interrupção da gravidez.

D. Dimas declarou ainda que, embora o estupro não esteja entre os delitos geradores de excomunhão, quem o comete “está fora da comunhão” e “em grave pecado mortal”. “Não sabemos até que ponto é um doente mental. Se, além de muita maldade, tem também uma doença. Mas essa pessoa se exclui da comunidade e da comunhão com Deus”, afirmou d. Dimas. “Está na Bíblia, que é mais que o direito canônico.”

CNBB desautoriza bispo e nega excomunhão

O Globo, sexta-feira, 13 de março de 2009

Catarina Alencastro

Brasília — Apesar de o arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, ter anunciado a excomunhão dos envolvidos no caso da menina de 9 que fez aborto, a CNBB afirmou que ninguém foi punido pela Igreja. Numa tentativa de minimizar os efeitos das declarações de Dom José Cardoso Sobrinho, a CNBB alegou que o arcebispo apenas teria avisado que a conduta dos envolvidos poderia resultar na excomunhão.

Para a CNBB, a polêmica em torno das declarações do religioso tiram de foco o centro do problema: a violência que a menina vinha sofrendo há três anos dentro de casa.

— Na verdade, o bispo não excomungou ninguém. O bispo anunciou que esse tipo de ato traz consigo, pelas normas católicas, tal possibilidade. Tenho certeza de que Dom José não teria, de forma alguma, a intenção de ferir quem já estava ferido, mas de chamar a atenção justamente para um certo permissivismo que faz com que a vida do nascituro não seja considerada — disse Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidente da CNBB.

— O seu grito e o seu desabafo em torno da excomunhão em nenhum momento se dirigiram às vítimas. Tenho certeza de que Dom José não quis ferir quem já estava ferido — repetiu Dom Dimas Lara Barbosa, secretário da conferência. Dom Dimas disse que a menina, por não ter consciência, e sua mãe, por ter agido “sob pressão”, não podem ser excomungadas.

Já no caso de médicos que declararam ter intenção de praticar regularmente o aborto, vale a punição da Igreja, segundo o religioso.

No caso do padrasto que vinha abusando da menina e de sua irmã há vários anos, automaticamente ele já estaria “fora da comunidade” por não partilhar dos dogmas da igreja, segundo Dom Dimas.

Igreja recua sobre a excomunhão da mãe

Folha de S. Paulo, sexta-feira, 13 de março de 2009


Johanna Nublat; colaborou Renata Baptista

Brasília — A Igreja Católica deu um passo atrás ontem em relação à excomunhão da mãe da menina de nove anos estuprada pelo padrasto em Pernambuco e grávida de gêmeos.

Segundo entendimento do secretário-geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa, a mãe da menina agiu sob pressão dos médicos, que disseram que sua filha morreria caso a gravidez não fosse interrompida. Desta forma, não se enquadra na pena, disse.

Ele disse ainda que não poderia generalizar a excomunhão para todos os médicos. “Não temos elementos para dizer este está em excomunhão, aquele não. O que podemos dizer é que, para a igreja, o aborto praticado livremente, conscientemente, por motivos fúteis, sem pressão é um crime que clama aos céus, e aquele que o pratica é alguém que se coloca fora da comunhão da igreja.” “Precisa colocar esta penalidade dentro do contexto da mentalidade de hoje. Não é questão de isso ser mais grave que aquilo, tudo é grave”, disse.

Sobre o padrasto, dom Dimas disse que não se sabe “até que ponto a pessoa é um demente mental. É muita maldade, mas tem também distúrbio”. Na entrevista, o assessor canônico da CNBB, padre Enrique Pujol, disse que a excomunhão não pode ser feita em “clima de polêmica”. Questionados sobre se o arcebispo teria sido precipitado ao dizer da excomunhão automática, dom Dimas e dom Geraldo disseram que o religioso “não queria ferir quem já estava ferido” e que a questão era “irrelevante”. Dom Geraldo afirmou também que “excomunhão não é sinônimo de condenação ao inferno” e que um dos objetivos dela é o arrependimento.

Papa: distribuir [preservativo] pode agravar Aids

O Globo, quarta-feira, 18 de março de 2009

Yaoundé — A condenação do uso do [preservativo] é controversa até mesmo entre padres e freiras que trabalham com portadores do vírus.

Bento XVI já havia defendido em 2005 que a abstinência sexual antes do casamento e a fidelidade — e não os [preservativos] — são os caminhos para interromper a epidemia. No entanto, essa é a primeira vez que um Papa afirma que a distribuição de [preservativos] pode agravar o problema.

A declaração gerou protestos

A diretora de comunicação da Campanha de Ação e Tratamento da África do Sul, Rebecca Hodes, disse que, apesar de concordar com o Papa de que o uso de [preservativo], sozinho, não é uma solução para a epidemia, este é um dos poucos métodos preventivos cuja eficácia foi comprovada.

— A posição dele em relação aos [preservativos] sugere que o dogma religioso é mais importante para ele do que a vida dos africanos — disse.

Organizações de homossexuais na Itália também condenaram as declarações.

— Mais uma vez se evidencia a responsabilidade não só moral, mas também direta, da Igreja Católica na falta de prevenção do HIV. Ainda mais irresponsável é dizer que o uso de preservativos aumenta os problemas — disse Franco Grillini, presidente da organização [homossexual]net.

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids, existem hoje no mundo cerca de 33 milhões de portadores do vírus HIV. Em 2007, 75% de mortes provocadas pelo HIV ocorreram na África Subsaariana.

Em visita à África, papa condena uso do [preservativo] e despotismo

Folha de S. Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

O papa Bento 16 iniciou ontem uma visita de seis dias à África, o continente que tem a maior parcela de população contaminada pelo vírus da Aids no mundo, reafirmando a posição da Igreja Católica contrária ao uso do [preservativo].

Ao mesmo tempo, ao chegar a Camarões, primeira escala de uma visita que incluirá ainda Angola, Bento 16 pediu aos católicos do continente que lutem contra a violência, a pobreza, a corrupção e os abusos de poder — práticas que, segundo ele, têm travado a melhoria das condições de vida na região.

Ainda no avião que o levava de Roma à capital camaronesa, Yaoundé, o papa afirmou que a Aids “não pode ser derrotada com a distribuição de preservativos”. A doença já matou mais de 25 milhões de africanos desde o início dos anos 80. Hoje, cerca de 20 milhões de pessoas no continente têm o vírus HIV, e alguns países da região apresentam taxas superiores a 20% da população infectada.

Para Bento 16, o [preservativo] não é a solução, mas, “ao contrário, aumenta o problema”. A visão da igreja é a de que a distribuição indiscriminada de preservativos pode estimular um comportamento sexual que ela vê como irresponsável e que estaria na raiz da epidemia de Aids que o mundo viveu em décadas recentes.

Para a igreja, o ponto crucial da visita à África, no entanto, é outro. O continente é visto como uma “fronteira” de evangelização para todas as grandes religiões monoteístas do mundo, onde elas competem para “receber” fiéis provenientes das inúmeras religiões tradicionais locais.

Em Camarões, a “divisão” se dá entre cristãos e muçulmanos. Já em Angola, destino de Bento 16 a partir de sexta-feira, a colonização portuguesa contribuiu para a forte presença católica. Essa prevalência tem sido ameaçada em anos recentes com o avanço dos protestantes, muitos deles neopentecostais de origem brasileira.

Bento XVI em visita a Camarões

O Estado de S. Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

Associated Press

Yaoundé — O papa Bento XVI pediu nesta quarta-feira, 18, aos bispos e padres da África que preguem dando exemplo, para que não haja diferença entre o que ensinam e como vivem, que defendam as famílias e se oponham ao divórcio, e que as alegres celebrações religiosas africanas não distorçam a liturgia católica.

Bento XVI fez as declarações no discurso dirigido aos 30 bispos da Conferência Episcopal de Camarões, com os quais se reuniu em seu segundo dia na cidade de Yaoundé e diante dos quais ressaltou a importância da liturgia nas manifestações da comunidade católica africana.

“Estas celebrações são festivas e alegres, mas é essencial que as mesmas não sejam um obstáculo, mas um meio para entrar em diálogo e comunhão com Deus”, afirmou o papa, que insistiu na necessidade de que sejam “dignas”.

Desta forma, o papa expressou sua preocupação com a rica religiosidade africana, que muitas vezes inclui nas cerimônias ritos tradicionalmente tribais e os sobrepõe à liturgia católica.

Em um país onde os católicos são 26,7% da população (cerca de quatro milhões de fiéis), seguidos pelos muçulmanos, que são 22%, Bento XVI deu especial atenção à forte penetração das seitas pentecostais vindas da América, à proliferação dos movimentos esotéricos e à religiosidade supersticiosa.

Se na terça-feira, 17, o pontífice voltou a condenar o aborto, nesta quarta-feira, 18, insistiu na defesa da família e reafirmou a indissolubilidade do casamento.

Para Bento XVI, “as dificuldades relacionadas ao impacto da modernidade e da secularização com a sociedade tradicional obrigam os valores tradicionais da família africana a serem preservados com determinação”. 

sexta-feira, 13 de março de 2009

Estupro, aborto e valores distorcidos

Gazeta do Povo, Curitiba, quarta-feira, 11 de março de 2009


Carlos Ramalhete

Têm sido espantosas as reações à declaração de dom Cardoso, arcebispo de Olinda e Recife, acerca das excomunhões dos responsáveis pelo aborto das duas crianças geradas no estupro de uma menina de nove anos de idade. O que ele fez foi apenas o seu dever: comunicar ter ocorrido a excomunhão automática dos responsáveis pela morte de duas crianças inocentes. Quem lesse as reações à comunicação, contudo, teria a impressão de que havia uma vida apenas em risco, e esta seria a vida da mãe das crianças. Não é o caso. A vida dela estava, sim, em um certo grau de risco, não maior nem menor que o de muitas mulheres grávidas com alguma complicação. Casos muito piores já chegaram a um final feliz.

Neste caso, contudo, aproveitando-se de uma falsa brecha legal — o fato de o Direito brasileiro não prever punição para o aborto de crianças geradas por estupro ou em caso de risco de vida para a mãe, exatamente como não prevê punição para o furto cometido por um filho contra o pai — grupos de pressão interessados na legalização do aborto apressaram-se, contra a vontade da mãe e de seus responsáveis legais, a matar o quanto antes as crianças que cometeram o crime de terem sido concebidas no transcurso de um repulsivo estupro. Os filhos são punidos com pena de morte pelo crime do pai.

A violência das reações à declaração de dom Cardoso, contudo, mostra claramente o alcance — em alguns setores bastante vocais da classe média urbana — de uma pseudoética apavorante. As crianças mortas simplesmente não entram na equação, não são consideradas. O próprio estupro só é mencionado de passagem. O risco de vida para a mãe é transformado em uma certeza de sua morte. São saudados como heróis salvadores os carniceiros que arrancaram do ventre da mãe duas crianças perfeitamente saudáveis e atiraram os cadáveres em uma cesta de lixo, onde provavelmente estava uma cópia mofada do juramento de Hipócrates que fizeram quando se formaram médicos.

Isto ocorre por ter sido perdida a noção do valor da vida. As crianças abortadas não têm valor para a sociedade, logo podem ser mortas. Mais ainda, não merecem menção. A única criança digna de menção é a mãe, e olhe lá.

Ela mesma, a mãe das crianças abortadas, tem seu sofrimento deixado de lado. Uma menina de nove anos de idade que sofreu a violência de um estupro, provavelmente reiteradas vezes; uma criança ela mesma, vivendo mais que provavelmente em condições miseráveis (sabe-se que sua mãe não sabe ler e escrever, o que serviu bem aos que simplesmente mandaram que apusesse a impressão do polegar aos papéis que, como depois ela veio a saber, eram a sentença de morte de seus netos), foi levada de um lugar para o outro, teve os filhos que ela desejava manter arrancados de seu ventre e mortos, sendo tratada apenas como excelente exemplo de portadora biológica de material a abortar.

O estupro, mais ainda, o estupro reiterado e contumaz de uma criança indefesa é um crime asqueroso, que poderia em justiça merecer a pena de morte (não percebi, aliás, em nenhuma das numerosas e estridentes reações pró-aborto à declaração de dom Cardoso, alguém pedindo que fosse estendida ao estuprador a pena de morte que sofreram seus filhos).

A mesma negação feita pelo estuprador contra sua vítima foi reiterada sobre seus filhos: ela foi estuprada; eles foram mortos. Desumanizada pela primeira vez pelo estuprador, ela o foi novamente, juntamente com seus próprios filhos — a flor de esperança e de vida que poderia ter saído do lodo da violência — pelos que não consideram que a vida tenha, por ser vida humana, algum valor. Agora, esperam eles, esgotado seu valor de propaganda, ela pode rastejar de volta à miséria de seu barraco e deixá-los tocar em paz a campanha pró-aborto.

Em nota, CNBB diz que estupro foi ‘ato insano’

Folha de S. Paulo, sábado, 7 de março de 2009


Brasília — O estupro da menina de nove anos pelo padrasto em Pernambuco foi um “ato insano”, de acordo com nota divulgada ontem pela presidência da CNBB, que se disse “perplexa”.

“Repudiamos veementemente este ato insano e defendemos a rigorosa apuração dos fatos, e que o culpado seja devidamente punido, de acordo com a Justiça”, diz o texto. A nota da instituição não faz referência à excomunhão da mãe da menina, que autorizou o aborto, e dos médicos que o conduziram, anunciada pelo arcebispo de Olinda e Recife, dom José Cardoso Sobrinho.

Também não comenta as afirmações do presidente Lula sobre o caso e a reação da igreja. No texto, a CNBB também reforçou o posicionamento contrário à interrupção da gravidez — defendido por dom José Cardoso Sobrinho — citando trecho de outra nota, divulgada pelos bispos da Regional Nordeste 2 da instituição, na qual está o Estado de Pernambuco: “Diante da complexidade do caso, lamentamos que não tenha sido enfrentado com a serenidade, tranquilidade e o tempo necessário que a situação exigia. Além disso, não concordamos com o desfecho final de eliminar a vida de seres humanos indefesos”.

A segunda nota faz críticas à legislação brasileira, que, afirma o texto, reflete “a cultura dominante, que nem sempre respeita os princípios éticos e naturais” — a lei permite o aborto em vítimas de estupro ou quando a gestante corre risco de vida.

Cardeal do Vaticano defende excomunhão


Folha de S. Paulo, domingo, 8 de março de 2009


Recife — O cardeal Giovanni Battista Re, presidente da comissão pontifícia para a América Latina do Vaticano, defendeu a excomunhão da mãe da menina de nove anos que abortou gêmeos, após ser estuprada e engravidada pelo padrasto em Alagoinha (230 km de Recife).

“É um caso triste, mas o verdadeiro problema é que os gêmeos concebidos eram pessoas inocentes que tinham o direito à vida e não podiam ter sido eliminados”, afirmou Re ao jornal italiano La Stampa, ontem.

Segundo o cardeal, os ataques à igreja brasileira são injustificáveis. “A excomunhão dos que provocaram o aborto é justa, porque a operação é a supressão de uma vida inocente.”

Vaticano: ‘Igreja não pode trair sua missão de defender a vida’


O Globo, sábado, 7 de março de 2009


Roma e Recife — O Vaticano e a CNBB defenderam a decisão da Igreja Católica em Pernambuco de condenar o aborto legal realizado na menina de 9 anos que foi estuprada pelo padrasto e engravidou.

O chefe do Conselho Pontifício do Vaticano para a Família, Gianfranco Grieco, disse ao jornal italiano Corriere della Sera que foi correta a excomunhão dos que fizeram o aborto.

— É um tema muito, muito delicado, mas a Igreja não pode trair sua missão de defender a vida desde a sua concepção até o seu término natural, ainda que diante de um drama humano tão forte como o da violência a uma menina — declarou.

Aborto e excomunhão

O Estado de S. Paulo, sábado, 7 de março de 2009

Fórum dos Leitores


■ O arcebispo de Olinda e Recife tem sido duramente criticado por causa da excomunhão. Infelizmente, pelo que sei, nenhum colega saiu em defesa dele. Na verdade, o Direito Penal Canônico (cânon 1.398) prescreve a excomunhão automática no caso de aborto. Trata-se de exceção ao princípio do devido processo legal, haja vista a gravidade do delito perpetrado. O arcebispo não moveu uma palha sequer para infligir a pena aos que participaram do aborto. Ele não é responsável pela excomunhão. Está na lei da Igreja. — Edson Luiz Sampel, doutorando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, de Roma, São Paulo

■ Por que os médicos de Pernambuco interromperam a gravidez gemelar de uma menina de 9 anos? Por causa da idade? Por causa de sua estrutura física? Ora, a peruana Lina Medina, de estrutura franzina, teve um filho saudável aos 5 anos de idade, por cesariana, em 1939. É a mãe mais jovem já confirmada na história da medicina. — Cleomenes Barros Simões, obstetra, Guarulhos

Aborto e excomunhão

Folha de S. Paulo, sábado, 7 de março de 2009

Editoriais


Causa espanto a iniciativa do arcebispo de Recife e Olinda, dom José Cardoso Sobrinho, de excomungar a equipe médica e a mãe da menina de nove anos submetida a aborto para interromper gravidez. Em depoimento à polícia, o padrasto disse que abusava sexualmente da garota, que mora em Alagoinha (PE).

Mais grave que o estupro, afirmou ontem o prelado, é o “aborto, eliminar uma vida inocente”. Deve ser por causa dessa assombrosa linha de raciocínio que o estuprador não foi excomungado. A sanção religiosa foi dirigida apenas aos médicos, que realizaram um procedimento dentro da lei e atenuaram o sofrimento de uma criança, vítima de ignominiosa violência.

Não cabe a ninguém de fora da igreja questionar seus dogmas. O que causa espécie é a contundência da condenação anunciada por dom José, que parece mais proporcional à notoriedade do caso do que ao zelo com a doutrina.

O procedimento realizado em Pernambuco satisfaz a condição legal. Duplamente, até, pois os médicos avaliam que o parto na menina franzina traria risco à sua vida. A equipe médica cumpriu com sua obrigação profissional e ética, amparada ainda em norma técnica do Ministério da Saúde que deixou de exigir registro de ocorrência policial como condição para fazer o aborto.

Por meio de pressões abusivas desse tipo, grupos religiosos conseguem dificultar, e até bloquear, ações de saúde pública. Que a punição extrema à equipe médica pernambucana não desestimule a adoção de providência médica amparada em lei, no caso de pessoas submetidas a drama semelhante.

Excomunhão de médicos é notícia no mundo

O Globo, sábado, 7 de março de 2009


São Paulo — Correu o mundo a notícia da excomunhão dos médicos, da família e de integrantes de ONGs envolvidas no aborto de gêmeos, feito legalmente em uma menina de 9 anos vítima de estupro. A decisão de excomungar os que participaram do procedimento foi anunciada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho.

No site da rede britânica BBC, a notícia foi a mais lida durante toda a quinta-feira. Já a imprensa italiana publicou reportagens afirmando que o Vaticano apoia a decisão do bispo.

A rede americana Foxnews noticiou a excomunhão, citando a entrevista do arcebispo à TV Globo, e lembrando os casos em que o aborto é permitido no Brasil. O site do jornal espanhol El País ressaltou que, no Brasil, os assuntos de Estado não costumam se misturar com os de igreja. Em sua página, o americano The New York Times citou que o aborto legal foi realizado a despeito da oposição da igreja. A decisão do bispo católico foi noticiada até no Karachi News, do Paquistão, país de maioria muçulmana.

"Fim não justifica meios", diz arcebispo

Folha de S. Paulo, sexta-feira, 6 de março de 2009

Recife — Após tentar barrar o aborto, dom José Cardoso Sobrinho disse que as pessoas devem lembrar que acima de todas as coisas está a lei divina. Para ele, “os fins não justificam os meios”, e, mesmo diante da possibilidade de a menina não resistir à gravidez, “duas vidas humanas não deveriam ter sido suprimidas”. (RB)

Folha — Por quê excomungar os envolvidos no caso?

Dom José Cardoso Sobrinho — Não tenho o poder de excomungar ninguém. Está escrito nas leis da Igreja. As pessoas que atuaram diretamente para as mortes estão automaticamente excomungadas. Ou seja, não estão mais em comunhão com a Igreja. A Igreja é tão benigna que aquelas que só apoiaram não são excomungadas e as que foram não estão condenadas eternamente. Se se arrependerem, a Igreja perdoa.

— A punição é dada apesar de a lei amparar o ato?

— Algumas leis civis são contra a lei de Deus. É o caso de aborto e divórcio. Deve-se lembrar que a lei de Deus está acima de todas as coisas. Fiz o que podia para impedir a morte destes inocentes.

— Mas ela corria risco.

— O médico dizia que havia o risco, mas o fim não justifica os meios. A boa finalidade de salvar a vida dela não podia ter suprimido duas vidas. Vou dar um exemplo: eu gosto muito de dar alimentos aos pobres, mas para consegui-los não posso roubar um banco ou assaltar alguém. Dois inocentes morreram, sem chance de se defender.

— O sr. não teme que isso afaste fiéis da Igreja?

— Se afastar os fiéis que não comungam dos ensinamentos da Igreja, que seja. Hitler matou 6 milhões de judeus e o Holocausto é lembrado todos os anos. Também penso num Holocausto silencioso, nos 50 milhões de abortos no mundo a cada ano.

Equipe que fez aborto em menina de 9 anos e a mãe são excomungadas


O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 6 de março de 2009


Angela Lacerda; colaboraram Solange Spigliatti e Lígia Formenti

Recife — Depois do aborto a que foi submetida uma menina de 9 anos estuprada pelo padrasto e grávida de gêmeos, toda a equipe médica que participou do procedimento e a mãe da criança, que o autorizou, foram excomungadas da Igreja Católica. O anúncio da excomunhão, feito pelo arcebispo de Olinda e Recife, d. José Cardoso Sobrinho, provocou polêmica. Dois ministros de Estado fizeram críticas à atitude do religioso. José Gomes Temporão, titular da Saúde, considerou a excomunhão “lamentável”. Carlos Minc, do Meio Ambiente, declarou que estava “revoltado”.

Profissionais de saúde que viraram alvo da sanção eclesiástica disseram que não estão arrependidos. “Graças a Deus estou no rol dos excomungados”, disse a diretora do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), Fátima Maia. Católica, ela disse ter agido como diretora de um instituto de referência no Estado para atendimento à mulher vítima de violência sexual, mas pessoalmente também não tem nenhum arrependimento. “Abomino a violência e teria feito tudo novamente. O Cisam fez e vai continuar fazendo, estamos qualificados para esse tipo de atendimento há 16 anos.”

Católico de batismo, não praticante, o gerente médico do Cisam, Sérgio Cabral, um dos que participaram da interrupção da gravidez de 15 semanas da criança, frisou não ter nenhum problema de consciência. “Estou cumprindo um trabalho perante a população pobre de Pernambuco que só tem o Sistema Único de Saúde para resolver seus problemas.” O médico preferiu não comentar a excomunhão da Igreja.

Coordenadora do Grupo Curumim, uma ONG que trabalha com reprodução feminina e integra o Fórum de Mulheres de Pernambuco, Paula Viana criticou abertamente o arcebispo. “Assusta achar que a vida de uma menina vale menos que o pensamento de um religioso fundamentalista”, disse. “Todos os procedimentos foram feitos com base na lei”, lembrou, referindo-se ao estupro e ao risco de vida que a menina corria pela imaturidade de seu aparelho reprodutivo. De acordo com a diretora do Cisam, a criança poderia ter ruptura de útero, hemorragia e bebês prematuros, além de risco de diabete, hipertensão, eclâmpsia e de se tornar estéril.

Há dois anos, d. José gerou polêmica ao tratar da distribuição da pílula do dia seguinte no carnaval, alegando que o método é abortivo, e não contraceptivo. A arquidiocese pediu a suspensão da distribuição, mas não teve sucesso.

Rio Grande do Sul

Uma menina de 11 anos grávida do pai adotivo está internada em um hospital em Tenente Portela (RS). A gestação completou 7 meses. A polícia pediu a prisão preventiva do pai adotivo, um pedreiro de 51 anos.

Repercussão

D. José Cardoso, Arcebispo do Recife: “O padrasto cometeu um delito gravíssimo, mas, de acordo com o Direito Canônico, não é passível de excomunhão automática. O aborto é mais grave ainda”.

José Gomes Temporão, Ministro da Saúde: “Está na lei. Em caso de risco de vida da gestante ou gravidez resultado de estupro, o aborto pode ser permitido. O resto é opinião da Igreja”.

Carlos Minc, Ministro do Meio Ambiente: “Essa menina já teve um trauma grande. A Igreja, em vez de ajudar, criou uma questão a mais. É a criminalização da vítima”.

D. Antônio Dias Duarte, Bispo auxiliar do Rio: “A Igreja é tão misericordiosa que a excomunhão não se aplica a quem afirmar que não conhecia essa lei do Direito Canônico”

Arcebispo apoia campanha de delegados Bruno Tavares e Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo, sexta-feira, 6 de março de 2009

A Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo se reuniu com o arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, em busca de apoio para sua campanha em nome da moralidade na Segurança Pública. O cardeal manifestou apoio à iniciativa do presidente da associação, delegado Sérgio Roque, que estava acompanhado por seu colega da Polícia Federal, Protógenes Queiroz. A Campanha da Fraternidade deste ano tem como lema A paz é fruto da Justiça. O encontro do cardeal com os policiais durou duas horas. Na próxima sexta-feira, os delegados farão um ato diante da Secretaria da Segurança Pública, no centro.

Pedofilia, lascia l’ex segretario di tre papi Mario Porqueddu

Corriere della Sera, domingo, 8 de março de 2009


Milano — Il vescovo irlandese John Magee si è dimesso ieri dopo essere stato travolto dalle polemiche per come aveva gestito un’inchiesta su presunti casi di pedofilia nella sua diocesi. Magee è stato segretario privato di tre pontefici, Paolo VI, Giovanni Paolo I e Giovanni Paolo II. Fu lui il primo a vedere il cadavere di papa Luciani. E nel 1982 fu nominato Maestro di cerimonie pontificie. Nato nel 1936 in Irlanda, Magee fino a ieri era il vescovo di Cloyne, nel sud del Paese. Proprio nella diocesi che reggeva dal 1987 alla fine dell’anno scorso è scoppiato uno scandalo su presunti abusi sessuali nei confronti di minori. Il 19 dicembre era stato pubblicato il «rapporto Cloyne», preparato dall’organismo della Chiesa cattolica che si occupa di salvaguardia dei bambini, una struttura messa in piedi dalla Chiesa ma indipendente dalle gerarchie ecclesiastiche.

Secondo quel rapporto, le pratiche di protezione dei minori a Cloyne sarebbero state «inadeguate e sotto certi aspetti dannose», e proprio per questo i bambini erano stati «messi a rischio». Il 7 gennaio una commissione d’inchiesta dell’arcidiocesi di Dublino è stata incaricata di esaminare quello che accadeva nella diocesi retta da John Magee. Una settimana più tardi il cardinale Sean Brady, primate cattolico, aveva risposto a chi pretendeva le dimissioni del vescovo, spiegando che Magee aveva promesso «cambiamenti e progressi nella sua diocesi». Ma le polemiche non si erano fermate. In particolare, da parte dei portavoce dell’associazione «One in four» che supporta le vittime di abusi sessuali, che invocava l’intervento del governo. Pare che il 4 febbraio Magee si sia rivolto direttamente al Vaticano preannunciando l’intenzione di dimettersi e chiedendo di nominare un «amministratore apostolico» che gestisca la diocesi in vece sua.