segunda-feira, 28 de julho de 2008

Mosteiro mais antigo tem monges mais novos

O Estado de S. Paulo, domingo, 20 de julho de 2008

Valéria França
A instituição religiosa com vida ininterrupta mais antiga de São Paulo, o Mosteiro de São Bento, completou, na terça-feira, 410 anos. E com a geração de monges mais jovem da história da casa. Dos 44 beneditinos, 35 têm entre 20 e 32 anos. “Em 1993, quando cheguei, havia uma geração significativa de octogenários, que foi morrendo ao longo do tempo. Desse grupo só um está vivo, mas bem idoso, com 97 anos, e doente, com Alzheimer”, diz o prior, d. João Evangelista Kovas, de 35 anos, segundo na hierarquia. O primeiro é o abade, d. Mathias Tolentino Braga, de 43 anos.
Com o rejuvenescimento do corpo de religiosos, o mosteiro vem saindo de um obscurantismo secular para se adequar à modernidade, sem, no entanto, perder o foco na vida monástica e nos valores tradicionais. “A nova geração de monges é mais maleável que a antiga”, diz o irmão Gregório de Oliveira Ferreira, de 24 anos, que em aproximadamente três semanas fará os votos perpétuos, conquistando assim, depois de cinco anos de estudo, o título de monge.
Ao meio-dia, serve-se o almoço. Não é permitido conversar durante a refeição. Para que ninguém caia em tentação, um dos religiosos lê em voz alta algum livro de história, como 1808, sobre a chegada da família real ao Brasil. “O mais difícil é a hora do silêncio, reservada para meditação, oração e leitura”, observa irmão Gregório. “Nunca conseguimos fazer aquele silêncio sepulcral, que os antigos monges colocavam em prática. Sempre alguém fala alguma coisa ou solta uma piadinha.”
A clausura fica aberta à internet
Quando o Mosteiro de São Bento, em São Paulo, começou a abrir suas portas para a comunidade, organizando uma agenda de concertos, brunches e festas, outras mudanças já aconteciam longe das vistas dos visitantes. Os monges hoje têm à disposição dez terminais de computador, conectados à internet, nas salas multimídias da clausura. “Precisamos estar antenados com o que acontece no mundo”, diz o prior d. João Evangelista Kovas, considerado no mosteiro um bom webdesigner. Foi ele quem construiu o site www.mosteiro.org.br. “O portal é uma ótima forma de se comunicar com o público. Lá estão nossas informações básicas, com horário de missa e histórico do mosteiro, entre outras coisas.”
Mosteiro abre portas para eventos
O Mosteiro de São Bento oferece um leque diversificado de atividades, que vai de recitais a brunches autorais. Uma terça-feira por mês, são realizados concertos pagos de música clássica. Já passaram por ali grandes intérpretes como o pianista Álvaro Siviero, que chegou até a tocar para o papa Bento XVI. Um dia antes, na basílica, ao meio-dia, acontece a mesma apresentação, só que em um formato mais enxuto, e de graça ao público. “O concerto do meio-dia emplacou. A basílica fica lotada”, conta o prior d. João Evangelista Kovas.
Os domingos também são bem concorridos. A famosa missa com cantos gregorianos começa às 10 horas. Quando os sinos tocam, abrem-se as portas da clausura e os monges entram em fila em direção ao altar. O silêncio na basílica é quebrado pelas canções em latim. “Já há letras de cantos gregorianos em português”, diz irmão Gregório de Oliveira Ferreira, de 24 anos. “Mas o mosteiro conserva o latim por uma questão de tradição.” Os fiéis agradecem.

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