sexta-feira, 11 de julho de 2008

Sucessão iminente gera crise na Arquidiocese

O Globo, domingo, 22 de junho de 2008

Paula Autran
Um barril de pólvora que descansava há sete anos na sede da Arquidiocese do Rio, na Glória, explodiu no último dia 12. Com a demissão, por telefone, de pelo menos 26 antigos funcionários — 17 deles da Pastoral do Menor —, foi pelos ares a aparente tranqüilidade que parecia reinar no Palácio São Joaquim, desde que o cardeal-arcebispo dom Eusébio Oscar Scheid substituiu o hoje arcebispo emérito do Rio, dom Eugenio Sales, em 2001.
As mudanças foram feitas após uma auditoria sigilosa encomendada à Fundação Getúlio Vargas — que sugeriu a reavaliação da estrutura e dos custos do serviço — e surpreendem porque aconteceram seis meses depois de dom Eusébio enviar sua renúncia ao Papa Bento XVI, no dia 8 de dezembro, quando completou 75 anos.
Dom Eusébio pediu ao Santo Padre para ficar no cargo até o fim do ano paulino, em 29 de junho de 2009. Mas seu futuro ainda é uma incógnita.
Segundo a ex-coordenadora técnica da Pastoral, Regina Leão, há 20 anos na função, o motivo alegado para as 17 demissões é uma suposta dívida de R$ 510 mil. Mas o montante seria fruto de problemas de documentação da Mitra:
— O que consumíamos, do telefone aos copinhos de café, nós bancávamos com o dinheiro de convênios que fechávamos com órgãos do governo do estado e da prefeitura, assim como com empresas. Fazíamos o trabalho com R$ 55 mil por mês. Mas há quatro anos passamos a ter problemas para fechar convênios, pois a documentação da Mitra não estava ok e não podíamos apresentar as certidões negativas necessárias.
De acordo com Padre Leandro, as atividades sociais da Arquidiocese do Rio continuam a todo vapor em áreas como saúde, educação, assistência social e geração de renda. Ele dá números de 2007: foram 2.987.320 atendimentos, em 251 paróquias, por 25.908 voluntários.
Ninguém ainda arrisca palpites sobre que nomes poderiam estar sendo cotados para o lugar de dom Eusébio, que não era o candidato preferido de dom Eugenio, nem foi o mais votado na consulta feita pela Nunciatura Apostólica.

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