segunda-feira, 28 de julho de 2008

O passado e o presente na Igreja

Jornal do Brasil, sábado, 12 de julho de 2008
Opinião

Dom Eugenio Sales
No Natal de 1969, o então professor Joseph Ratzinger, pronunciou uma erudita conferência. Nela, interrogou o futuro e buscou, no passado, explicações para o presente. Seu estudo se aplica, ainda hoje, à nossa realidade e merece uma reflexão dos fiéis sobre a similitude entre a conjuntura hodierna e o iluminismo, além do modernismo, correntes de pensamento que exerceram profunda influência nos séculos 18, 19 e 20.
Dizia o futuro papa Bento XVI: “O iluminismo tinha seu movimento episcopal em oposição a um centralismo unilateral de Roma. Queria salientar a importância dos bispos. Ele tinha seus componentes democráticos. (...) Exige-se a eliminação do celibato” (Fé e futuro, p.70).
A crise do modernismo perdura, apesar do rude golpe aplicado por Pio X, com a encíclica Pascendi, de 8 de setembro de 1907. O nome “modernismo” encobre uma variedade de proposições, cujas raízes mergulham no liberalismo do século 19. Incluía o conceito de “Igreja” em relação à ordem política e social; a renovação da teologia e exegese; o tipo de inserção da pastoral no mundo; a atualização das instituições eclesiásticas. Ao lado de aspectos positivos, essa corrente de pensamento, condenada pela Santa Sé, induzia ao esvaziamento do conteúdo da mesma fé. Predomina a ambigüidade, como hoje. Na França, as conseqüências foram desastrosas, de modo particular, para o clero jovem.
No modernismo, havia o que vemos atualmente: a pretensão de permanecer na comunidade eclesial, com a esperança de reformá-la, a partir do interior. Essa expectativa terminou com a Pascendi e quase todos se submeteram.
A afirmação de que, nos dias de hoje, há fatores novos que anulam qualquer comparação histórica vem apenas corroborar as semelhanças.
O brilho e o vigor da vida religiosa, em muitos países; a pregação da palavra de Deus em todos os quadrantes da terra; a força moral, ímpar na humanidade, dos últimos romanos pontífices; a ação visível do Espírito Santo, através do Concílio Vaticano II, geram ilimitada confiança, dando-nos a serenidade que tem seu fundamento na promessa do Redentor.

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