sexta-feira, 23 de maio de 2008

Manipulação genética e poluição são pecados modernos, diz Vaticano


O Estado de S. Paulo, terça-feira, 11 de março de 2008

Gina Marques, Alexandre Gonçalves, Lígia Formenti e José Maria Mayrink


Roma — A manipulação genética, a poluição ambiental, o uso de drogas e as desigualdades sociais estão na lista de “pecados modernos” que suscitam especial preocupação do Vaticano. As transgressões foram definidas como “sociais” e não devem ser confundidas com o elenco tradicional dos pecados capitais — gula, luxúria, avareza, ira, soberba, inveja e preguiça. Em entrevista ao jornal da Santa Sé, L’Osservatore Romano, publicada domingo, o bispo Gianfranco Girotti, membro da Penitenciaria (assim mesmo, e não “penitenciária”) Apostólica, tribunal da Cúria Romana que trata de questões de consciência, afirmou que as novas formas de pecado social são adaptadas à realidade da globalização. A entrevista foi dada depois que ele terminou de dar um curso de atualização aos padres confessores, que durou seis dias.
Segundo o bispo, o maior perigo para a alma, hoje, é “o mundo desconhecido” da bioética: “Dentro da bioética há áreas onde devemos denunciar, sem qualquer espécie de dúvida, algumas violações dos direitos fundamentais do ser humano, nomeadamente algumas experiências de manipulação genética, cujo resultado é difícil de prever e controlar.”
Ele acrescentou que na área social, o principal perigo é o tráfico e o consumo de drogas. “A droga enfraquece a psique e obscurece a inteligência, deixando muitos jovens fora da Igreja”, explicou. O bispo falou das injustiças sociais e econômicas como uma grande ofensa, indicando que os fiéis devem pedir perdão e fazer penitência. “A desigualdade social, onde os ricos se tornam cada vez mais ricos e os pobres, cada vez mais pobres, alimenta uma insuportável injustiça social.”
Girotti pediu uma maior consciência ambiental e colocou na lista de pecados as ofensas ecológicas. As recomendações seguem o discurso do papa Bento XVI, que tem apelado para a preservação do ambiente.
Também de acordo com d. Girotti, o pecado deixou de ser apenas uma questão pessoal e passou a ter influência mais ampla dentro da sociedade. “Antes, o pecado tinha uma dimensão individual, hoje tem impacto social, principalmente por causa da globalização. A atenção ao pecado agora é mais urgente por causa dos reflexos maiores e mais destruidores que pode ter.”
Girotti frisou que o aborto e a pedofilia continuam a ser preocupações centrais da Igreja, mas, no último caso, ressalvou que o problema é ampliado pelos meios de comunicação.

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