sexta-feira, 23 de maio de 2008

Freiras já não são mais as mesmas


O Estado de S. Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

Bruno Galo

Quando você pensa em uma freira, a figura que lhe vem à mente é de uma senhorinha séria e reclusa que ainda parece viver no início do século passado? Se a sua resposta foi sim, está na hora de você rever os seus conceitos. Apesar de algumas freiras seguirem uma vida de clausura, há muitas exceções — e algumas totalmente adaptadas aos hábitos eletrônicos do século 21.
Como a comunicativa irmã Maria Clara, de 46 anos. Para onde quer que ela vá, o laptop está sempre a tiracolo. Quando viaja, ela não abre mão de ouvir seu iPod. Sua coleção de músicas virtuais, armazenada em um HD externo, é composta por mais de 4 mil opções. A religiosa é uma entusiasta das novas tecnologias. “Acredito que elas vieram para nos libertar da burocracia e permitir uma maior convivência entre as pessoas”, afirma.
Coordenadora da Pastoral da Associação Cultura Franciscana, Maria Massaranduba de Freitas — ou simplesmente Irmã Clara, nome escolhido pela religiosa em homenagem a Santa Clara (fundadora do ramo feminino da Ordem criada por São Francisco de Assis) — une seu interesse pela tecnologia com a vocação religiosa.
Através da rede, ela coordena as irmãs em missão pelo País. Embora conectada em período quase integral, a irmã observa: “A internet é uma ferramenta maravilhosa... Mas precisa ser usada com disciplina: senão acaba consumindo muito do nosso tempo”.
Durante seu tempo livre, a irmã procura, sempre que possível, conversar através do Skype com as amigas espalhadas pelo mundo, muitas das quais também freiras. Entre elas está irmã Inácia, de 82 anos, uma religiosa alemã que vive no Brasil há mais de 50 anos.
Adepta também da telefonia móvel, irmã Clara usa o aparelho não só para se comunicar, como também ouvir música, tirar fotografias (“mando torpedozinhos”) e usar o e-mail às vezes, mas, como ela diz, “é um pouco lento”.
E videogame, a irmã joga? “Acho que o bom uso desse equipamento pode desenvolver muito a mente das pessoas”, acredita Clara, que afirmou apenas já ter experimentado o bom e velho “Paciência”. Entretanto, a freira faz um alerta aos pais: “Jogos em que pessoas matam as outras por diversão não deveriam ser colocados à disposição de uma criança”.
Longe do computador e da internet, irmã Clara gosta de cantar, tocar violão, ler livros de auto-ajuda e sobre psicologia — e principalmente fazer caminhadas (momento em que dispensa toda e qualquer traquitana tecnológica, inclusive o iPod): “Nessas horas, gosto de poder ver e conversar com as pessoas, bem como de ouvir os sons da natureza. É o meu momento de descansar a mente”, confessa.
Essa simpática senhora é, sem dúvida, um exemplo vivo e acabado de que tradição e modernidade podem caminhar juntas e em harmonia.

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