sexta-feira, 23 de maio de 2008

Chineses movidos pela fé na Virgem


Gilberto Scofield Jr.

Donglu — Quem chega a Donglu, uma poeirenta vila de 12 mil pessoas a 140 quilômetros de Pequim, consegue logo destacar o curioso prédio da Igreja de Nossa Senhora de Donglu, de orientação católica patriótica. Ou seja, seus padres — e fiéis — não devem satisfações ao Vaticano, mas ao Partido Comunista da China. A igreja abriga imagens da Virgem Maria com o Menino Jesus. Ao ver o jornalista tirando fotos, o padre Lu Zhi Chao vem correndo: — Por favor, os policiais estão observando. Não é seguro ficar aqui fora. Vamos conversar lá dentro.
O temor do padre ilustra o clima de temor pela repressão com que o governo controla as manifestações religiosas no local, considerado hoje a cidade mais católica da China. Nada menos que 8 mil dos seus 12 mil moradores são católicos. O padre acha que o número pode ser maior, pois se estima que haja seis milhões de católicos clandestinos.
— Os policiais estão sempre disfarçados, vigiando, especialmente aos domingos, quando as missas juntam 1.500 pessoas.
Donglu é conhecida na China por ser o lugar onde, desde 1900, ocorrem visões da imagem de Nossa Senhora. A última, em 1995, foi testemunhada por muitos na cidade, como o comerciante Zhang Bin: — Todo mundo aqui já viu a Virgem em algum momento da vida. Eu era criança, mas me lembro bem das pessoas assustadas, chorando, apontando para o céu perto dos campos onde a gente via a imagem.
O chefe do escritório da agência Lusa em Pequim, Rui Boavida, foi detido por cinco horas quando visitou Donglu:— O governo tem medo de que a cidade se transforme num centro de peregrinação.

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