sexta-feira, 23 de maio de 2008

Justiça baiana manda recolher livro de padre

Manuela Martinez

Salvador — A Justiça da Bahia determinou o recolhimento, em Salvador, de todos os exemplares de um livro escrito pelo padre Jonas Abib, fundador da comunidade católica Canção Nova, ligada à Renovação Carismática, ala conservadora da igreja.
Para o Ministério Público baiano, que pediu o recolhimento do livro Sim, Sim! Não, Não! Reflexões de Cura e Libertação, da editora Canção Nova, o padre cometeu o crime de “prática e incitação de discriminação ou preconceito religioso”, previsto na lei 7.716, de 1989.
De acordo com o promotor Almiro Sena, Abib faz no livro “afirmações inverídicas e preconceituosas à religião espírita e às religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, além de flagrante incitação à destruição e ao desrespeito aos seus objetos de culto”.
A ação cita trechos do livro que, na avaliação da Promotoria, trazem ofensas ao espiritismo e às religiões afro-americanas. “O demônio, dizem muitos, ‘não é nada criativo’. (...) Ele, que no passado se escondia por trás dos ídolos, hoje se esconde nos rituais e nas práticas do espiritismo, da umbanda, do candomblé”, diz Abib na obra.
Em outro trecho, o padre diz que “o espiritismo é como uma epidemia e como tal deve ser combatido: é um foco de morte”. Também há referência ao culto a imagens. “Acabe com tudo: tire as imagens de Iemanjá (que na verdade são um disfarce, uma imitação de Nossa Senhora). Acabe com tudo! Mesmo que seja uma estátua preciosa, mesmo que seja objeto de ouro, não conserve nada. Isso é maldição para você, sua casa e sua família.”
Para o Ministério Público, o livro ofende o princípio de liberdade de crença previsto na Constituição Federal, e afronta a “integridade, respeitabilidade e permanência dos valores da religião afro-brasileira” previstos na Constituição baiana.
Como atua em Salvador, o promotor pediu o recolhimento da obra só na capital, onde o livro é vendido por R$ 15,90. Segundo a Promotoria, foram vendidos 400 mil exemplares no país em 2007. Para Sena, isso “demonstra a amplitude alcançada pelas idéias contidas no seu conteúdo e o grave risco de propiciar o acirramento de conflitos étnico-religiosos”.
Em nota, a Canção Nova informou não ter sido comunicada da decisão judicial. Negou, contudo, que o livro incorra em preconceito religioso. “A obra é meramente conceitual e não tem o propósito de incitar qualquer discriminação ou preconceito religioso.”
A nota afirma ainda que o propósito do livro é “orientar os católicos a viverem com coerência a vida cristã de acordo com a linha filosófica e teológica defendida pela igreja.”

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