sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Igreja histórica do centro de São Paulo ameaça ruir


O Estado de S. Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2009


Rodrigo Brancatelli

Antônio Joaquim Ribeiro, um sujeito baixinho de 60 anos que está sempre impecavelmente vestido, tem uma das tarefas mais ingratas da cidade de São Paulo. Todo dia de manhãzinha, de sapato de bico fino e camisa social por dentro da calça, ele agarra uma lanterna improvisada, uma vassoura, uma caixa de ferramentas e começa a limpar as dependências da Igreja da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, conhecida também por Igreja das Chagas, no centro. Seria trivial, não fosse uma tarefa tão difícil quanto lutar contra moinhos de vento.

Há um ano lacrada pela Prefeitura, prestes a ruir e com cupins por todos os lados, a Igreja da Ordem Terceira parece só sobreviver graças ao trabalho do incansável Ribeiro, responsável pela manutenção. Se de dia ele varre as laterais do altar ou a nave central da igreja, de noite os mesmos locais já estão forrados por pó de madeira, símbolo mais do que visível da ação dos cupins. E ninguém parece dar valor à sua batalha digna de D. Quixote — sem planos de revitalização, sem parceiros para bancar os R$ 16 milhões da reforma e sem um único projeto em andamento, o zelador da igreja já parece conformado em continuar limpando e consertando até que certo dia aquilo tudo vire escombro.

Projetada pelo Frei Galvão (o primeiro santo brasileiro) e construída em taipa de pilão, com 220 anos de história, seus deslumbrantes altares e estátuas abrigam três fases do estilo barroco: a clássica, a primitiva e a posterior.

Apesar dessa história, a igreja acabou degradada pelo tempo e pela falta de restauro. E tombada pelos três órgãos de patrimônio histórico — nacional, estadual e municipal —, tudo ficou mais complicado e, principalmente, mais caro para reformar. Passeando pelos seus corredores e salões é possível notar que a imponência ainda está lá, com os altares reluzindo com o ouro das talhas, mas a destruição está em todos os cantos. A cada rangido da madeira, dá um medo tremendo de tudo cair.