sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Igreja Católica ante o aquecimento global

Folha de S. Paulo, domingo, 7 de junho de 2009


Pedro Luiz Stringhini* e Roberto Malvezzi*

Jesus ensinou seus discípulos a ler “os sinais dos tempos”. Não é o olhar de um cientista sobre a realidade, embora ele também seja essencial. Nesse caso, “sinais dos tempos” é uma categoria teológica que nos ajuda a interpretar como Deus se manifesta diante dos acontecimentos da história.

Entre tantas mudanças que acontecem na humanidade e no planeta que habitamos, uma parece mais desafiadora que todas as outras: o aquecimento global. Segundo grande parte dos cientistas, a Terra se comporta como um ser vivo e está num processo de aquecimento, com consequências gravíssimas e irreversíveis para a humanidade e toda a comunidade de vida que a habita. A previsão de que a Terra pode aquecer entre 2º e 6º assusta a comunidade científica e todos aqueles que têm acesso a essas informações.

Como sempre, as piores consequências recaem sobre os mais pobres. Os cientistas são cautelosos, preferem aguardar longos períodos históricos para emitir uma opinião conclusiva sobre as causas desses fenômenos e se sua origem é realmente o aquecimento global.

O Brasil é um dos grandes contribuintes para o aquecimento global. Cerca de 75% de nossas emissões resultam da queima e derrubada de florestas. Por essa prática nefasta, o Brasil se torna o quarto maior poluidor mundial.

Causam inquietação as medidas provisórias 458 e 452, além da proposta de mudança no Código Florestal. É de absoluta responsabilidade das autoridades evitar que essa tragédia seja legalmente ampliada. Preservar nossas florestas em pé, com meta política de desmatamento zero, é um bem inestimável para o povo brasileiro e uma generosa e viável contribuição para toda a humanidade.

Por isso, entre os dias 8 a 10 de junho, a CNBB, ao lado de outros parceiros, inclusive internacionais, como a Misereor, realiza em Brasília um simpósio para debater o tema e contribuir no processo de conscientização e práticas que inspiram a luta mundial contra o aquecimento global. Os cristãos o fazem por sua crença no Deus da vida, que entregou a criação para que dela cuidássemos, como jardineiros do jardim que é o planeta Terra.

* D. Pedro Luiz Stringhini é bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Paz, da Justiça e da Caridade — CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).

* Roberto Malvezzi, formado em filosofia e teologia, é membro da equipe de Terra, Água e Meio Ambiente do Conselho Episcopal Latinoamericano (Celam).

Nenhum comentário: