sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

TJ do Rio faz cruzada em defesa do crucifixo

O Estado de S. Paulo, terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Wilson Tosta

Desembargadores do Órgão Especial do Tribunal de Justiça fluminense deixaram de lado ontem, por alguns minutos, as questões jurídicas às quais estão habituados para debater a iniciativa do novo presidente do TJ, Luiz Zveiter, de retirar da sala de sessões um crucifixo e de substituir a capela católica por um espaço ecumênico. Magistrados que não apoiaram Zveiter na disputa pela presidência contestaram a decisão e pediram a volta do adorno e o fim do novo templo ou que as medidas no campo religioso, anunciadas na semana passada, fossem submetidas ao voto da cúpula do Judiciário.

Zveiter — que defendeu a decisão alegando o caráter laico (sem religião) do Estado e presidia a primeira sessão da sua gestão — não aceitou nenhuma das propostas e manteve as medidas.

No início da sessão, o desembargador José Motta Filho, que declarou não ter votado em Zveiter, referindo-se ao crucifixo retirado, pediu a volta de “um amigo que ficava aqui de braços abertos, não recebe salário, não usa assessor, não usa carro, não gasta combustível” ou o fim do espaço ecumênico, já que o Estado é laico. Zveiter interpretou as declarações como críticas aos juízes, devido às reclamações contra vantagens do Judiciário, e rebateu: “Vossa Excelência foi descortês”, disse.

Motta Filho teve apoio dos desembargadores Galdino Siqueira, que também declarou não ter votado em Zveiter, e Paulo Ventura, candidato derrotado à presidência. Já Zveiter foi apoiado pelos desembargadores Roberto Wider, Sérgio Cavallieri e Letícia Sardas. Encerrada a polêmica, a sessão transcorreu normalmente.

Curiosamente, com as mudanças “laicas”, a religião ganhou mais espaço no TJ. Em lugar da antiga capela católica — uma sala de cerca de 30 metros quadrados —, o espaço ecumênico tem 150 metros quadrados. Já ganhou um crucifixo, mas sem imagem do Cristo — o uso de imagens é vetado em algumas crenças, como as evangélicas e a muçulmana.

Na nova capela haverá cultos evangélicos às quartas-feiras e missas católicas às quintas, das 10h às 11h. Outras religiões poderão usar o espaço em outros dias. A capela ficará aberta ao público todos os dias, das 11h às 18h, para orações e meditação.

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