sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Indulgência volta à voga na Igreja Católica

Folha de S. Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009


The New York Times; tradução de Clara Allain

O anúncio em boletins e sites da Igreja Católica vem sendo saudado com entusiasmo por alguns e cautela por outros. Mas passou em branco para uma grande geração de católicos que não fazem ideia do que significa: Bispo anuncia indulgências plenárias. Nos últimos meses, dioceses em todo o mundo vêm oferecendo aos católicos um benefício espiritual que saiu de moda há décadas — a indulgência, uma espécie de anistia da punição na vida após a morte.

O fato de que muitos católicos de menos de 50 anos nunca ouviram falar em indulgências exceto nas aulas de história europeia que tiveram no colégio (em que Martinho Lutero denunciou a venda de indulgências em 1517, deslanchando a Reforma protestante), simplesmente torna sua reintrodução mais urgente, na opinião de líderes da igreja determinados a restaurar as tradições perdidas da penitência num mundo que veem como sendo demasiado satisfeito consigo mesmo. “Por que estamos trazendo a indulgência de volta?”, indagou o bispo Nicholas A. DiMarzio, do bairro do Brooklyn (Nova York), que aderiu à ideia. “Porque existe pecado no mundo.”

Como a missa em latim e as sextas-feiras sem carne, a indulgência foi uma das tradições separadas da prática da maioria católica nos anos 60 pelo Concílio Vaticano 2º, a reunião de bispos que determinou um novo tom de simplicidade e informalidade para a igreja. Sua retomada vem sendo vista como parte de um ressurgimento conservador.

Oferta em alta

A volta das indulgências começou com o papa João Paulo 2º, que em 2000 autorizou os bispos a oferecê-las como parte das celebrações do terceiro milênio da igreja. Mas a oferta tem crescido sob seu sucessor, Bento 16, que incluiu a concessão de indulgências plenárias nas festas do aniversário da igreja nove vezes em três anos.

A oferta atual está ligada à celebração de são [sic, em minúscula] Paulo, que dura um ano, até junho. Fazer os católicos voltarem ao confessionário foi uma das motivações que levou à reintrodução das indulgências.

“As confissões vêm diminuindo há anos, e a igreja está muito preocupada com isso”, disse o jesuíta Tom Reese, ex-editor do semanário Catholic Magazine America.

Numa cultura secularizada de psicologia pop e autoajuda, disse ele, “a igreja quer pôr a ideia do “pecado pessoal” de volta na equação. As indulgências são uma maneira de lembrar aos fiéis a importância da penitência”. “A boa notícia é que não as vendemos mais”, acrescentou.

“A ideia da indulgência perdeu força, juntamente com muitas outras coisas na igreja”, disse o bispo DiMarzio. “Mas nunca foi abandonada. Estava sempre ali. Queremos só que as pessoas retornem às ideias que conheciam no passado.”

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