sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

‘O Papa decepcionou judeus e muçulmanos’

O Globo, domingo, 8 de fevereiro de 2009

Graça Magalhães-Ruether

Berlim — O teólogo suíço Hans Küng, de 80 anos, ex-colega de Joseph Ratzinger no Departamento de Teologia da Universidade de Tübingen, nos anos 60, disse que as últimas decisões do Vaticano causaram um dano quase irreparável para a Igreja Católica. Em entrevista ao Globo, Küng afirmou que não foi por mal-entendido que Bento XVI reabilitou os bispos que negam o Holocausto e que Ratzinger sempre teve uma simpatia pelas tendências ultraconservadoras da Igreja. Para ele, os danos serão notados até no Brasil, onde a perda de credibilidade poderá causar uma escassez ainda maior de padres. Küng é presidente da Fundação Ética Mundial, que promove o estudo de relações interreligiosas, com sede na Alemanha.

— Na sua opinião, o Papa foi ingênuo ao suspender a excomunhão dos bispos?

— Ele não foi ingênuo e não se trata também de um mal-entendido, nem de um erro de comunicação. O Papa decepcionou agora os judeus da mesma forma que fizera antes com os muçulmanos. Já em consequência da sua origem bávara, ele sempre teve um devocionismo católico. As últimas decisões do Vaticano causaram um dano quase irreparável para a Igreja Católica.

— No início do seu pontificado, Bento XVI parecia ter deixado de ser reacionário. O que mudou?

— Eu acho que ele decepcionou o mundo católico. Eu também me decepcionei. Pouco depois do conclave, em 2005, eu tive com Bento XVI uma conversa de quatro horas em Castel Gandolfo. A minha impressão foi muito positiva. Pensava que se tratava do início de uma nova era. Mas depois não vi mais nenhum sinal por parte dele que indicasse que queria renovar a igreja. Vimos apenas um retorno ao passado, a volta da missa em latim, as orações pela iluminação dos judeus da Sexta-Feira Santa e agora essa reabilitação de bispos que têm posições contra os judeus.

— O senhor é a favor de uma possível renúncia do Papa Bento XVI?

— Teoricamente, uma renúncia seria possível. Alguns jornais chegaram a divulgar que eu havia exigido a renúncia, mas isso não é verdade. Eu exigi apenas uma correção da política do Vaticano.

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