sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Voltou a Missa em latim: Deo gratias


Revista Panorama, quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Carlo Rossella

A celebração na língua antiga, acompanhada por cânticos gregorianos, é uma delícia para o espírito. Tem um grande passado e é destinada a um grande futuro. Eis porque agrada, além dos tradicionalistas e os aristocratas, aos jovens. E também a Madonna e Elton John.

Tenho profundas razões afetivas ao retornar a Pavia, a minha cidade, nos finais de semana. Mas entre tantas, há uma que prezo muito: a missa em latim, segundo o rito de São Pio V, celebrada todos domingos às 9:30 na igreja de San Giovanni Domnarum por Gianfranco Poma.

Poma, biblista, professor no Seminário episcopal, é um sacerdote extraordinário, culto, aberto ao moderno, mas muito atento à tradição. Com um pequeno grupo de dedicados intelectuais católicos, soube e quis organizar a celebração, que se tornou possível após o motu proprio do Papa Bento XVI.

Poma fez uma pesquisa sobre as peculiaridade do rito, bem diverso em tantas pequenas particulares da missa comum em italiano. Os fiéis, por exemplo, ajoelham-se à mesa da Comunhão para receber a Sagrada Eucaristia.

Ao lado do esplêndido latim da Missa, existe a música gregoriana, a que acompanhou o rito tridentino desde 1570 até 1969 quando, após o Concilio ecumênico Vaticano II, o Papa Paulo VI aboliu o latim. Tal medida provocou, como se sabe, a recusa de uma parte dos fiéis católicos, guiados pelo ex-arcebispo de Dakar, Marcel Lefebvre, fundador da comunidade cismática de São Pio X e do seminário tradicionalista de Econe, na Suíça.

Sem embargo, freqüentando-a regularmente por obrigação religiosa, dado que sou católico praticante, nunca gostei da missa em língua local, ou seja, a missa pós-conciliar, com cânticos populares, descontando as ladainhas, violões e em certos países também tambores, como na famigerada Missa Luba.

Fui educado na religião católica com a Missa tridentina e considerei aquela nova como uma dilaceração. Sempre atribuí à queda do latim, do gregoriano, do rito um pouco misterioso da missa antiga à crise de vocações e tudo que aconteceu na disciplina e na vida dos sacerdotes.

Por todas estas razões, freqüentemente e de bom grado, participei de missas tradicionalistas, ou seja, lefebvrianas [sic], mas o meu confessor nunca me censurou.

Atualmente, muitos religiosos não falam latim, uma língua que, pelo contrário, renasce nas universidades norte-americanas mais prestigiosas, na Sorbonne e nos grandes ateneus alemães.

Na Itália, em algumas cidades, inclusive pequenas, celebra-se a missa antiga, porém certos prelados a obstaculizam, são parcimoniosos em conceder autorizações, quiçá por ignorância. Tal fenômeno não é apenas italiano, mas também francês, e o Santo Padre, desde Lourdes, exortou os bispos transalpinos a aceitar a missa em latim e a não criar muitas histórias.

Em Paris, porém, sempre assisti a esplêndidas missas em latim, sobretudo as da primeira sexta-feira do mês, na capela tradicionalista de Saint Dominique na rue de Pernéty, onde se presta homenagem ao cura d’Ars, um santo venerado pelos cultores do antigo missal.

A missa em latim, que em Roma está na moda entre os aristocratas da velha nobreza negra (a princesa Alessandra Borghese não perde uma) e entre os jovens nobres (o príncipe Francesco Moncada di Paternò), tem um grande passado, mas está destinada a ter também um notável futuro, visto o número crescente dos jovens que em toda Itália seguem o rito tridentino.

A melhor missa, no momento, é, dizem-me, a que se celebra todos os dias na igreja da Misericórdia, em Turim, mas também em Roma, na via Leccosa, atrás do Palácio Borghese, esforçou-se para tornar o rito esplêndido e muito ancien regime.

No Vaticano se fala em baixo tom da missa em latim, mas há, nos vértices, quem a celebra com prazer e com um certo espírito de desforra. É belo ver velhos padres e monsenhores aproximar-se do altar e recitar em latim: “Subirei ao altar de Deus, alegria da minha juventude” (Introibo ad altare Dei. Ad Deum qui laetificat iuventutem meam).

Para um católico, de qualquer idade, a fé em Deus e o seu amor mantém sempre jovens e entusiastas. Quem crê é otimista e mais sereno do que quem é agnóstico e inclusive ateu, sobretudo nesses tempos sombrios de aproveitadores financeiros e crises econômicas. Eu que havia esquecido de todo o ritual da missa de São Pio V, após haver escutado duas ou três não tive mais necessidade do livreto e respondi sem problemas ao sacerdote.

O retorno à tradição não diz respeito somente a missa, mas também a bênção dos fiéis, com Tantum Ergo, o pluvial suntuoso, o incenso em grandes quantidades e água benta. Obrigatório, no fim do rito, o cântico da Salve Regina, oração esplêndida em latim.

Em algumas comunidades se está por voltar aos funerais com os paramentos negros e prata e as ladainhas dos defuntos em latim. A missa tridentina é uma verdadeira delícia para o espírito.

E tem também uma sua estética. Para os homens aconselha-se o terno escuro com camisa branca e gravata escura. Às senhoras se aconselha o véu negro que cobre as orelhas, mas põe em relevo a face e os olhos. Encontram-se ainda véus bordados ou em tules nos gavetões da avó ou em certas lojas do interior, a côté dos santuários ou catedrais.

Às moças, pelo contrário, convém um véu claro, como levavam outrora nas procissões as crianças da Ação Católica.

A única desvantagem da missa em latim em comparação com a em italiano é a duração: ao menos 20 minutos a mais, dado que há muito mais a pedir ao bom Deus.

Iudica me, Deus, et discerne causam meam de gente non sancta, ab hómine iníquo et doloso érue me. Quia tu es, Deus, fortitudo mea: quare me repulisti, et quare tristis incedo, dum affligit me inimmicus?

Assim se reza em latim. Deo gratias.

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